Trancoseando lança linha exclusiva para casa
Já pensou em levar um pedacinho de Trancoso para a sua casa?
A nova aposta da Trancoseando é a linha Casa, que oferecerá aos clientes produtos exclusivos, desenvolvidos em parceria com artesãos locais, que trarão um mix especial de cores, texturas e estilos que traduzem a atmosfera e a cultura da região.
Fizemos uma curadoria de objetos que compõem a nova linha casa e convidamos a designer de interiores Marina Teixeira para assinar uma coleção exclusiva de peças garimpadas no nordeste brasileiro e customizadas sob a sua direção por artesão indígena de Trancoso. Uma verdadeira joia para vestir a sua casa com personalidade, arte e cultura local.
COLUNA – QUEM & QUANDO & COMO
A entrevistada do mês é nossa cliente, amiga e, agora também, parceira Marina Brandão Teixeira
Conectada, animada, generosa e amiga de todo mundo, Marina é designer interiores, paulistana e frequentadora de Trancoso há 21 anos. Para a nossa sorte, em 2020 fincou definitivamente os pés por aqui, quando resolveu passar a pandemia com a família no nosso e se engajou definitivamente em causas sociais e abraçando Trancoso e cuidando de temas tão sensíveis como a educação e coleta seletiva de lixo.
Nessa entrevista exclusiva ao Blog, ela relata a mudança da grande cidade para Trancoso e também como foi o processo de produção da nova linha que ela assina na Trancoseando.
Como foi a decisão de trocar São Paulo por Trancoso?
A primeira vez que estive aqui foi na minha formatura do 3º colegial, estávamos hospedados no Arraial d’Ajuda e passei apenas um dia em Trancoso. Depois, vim para a inauguração da casa do Edo, meu amigo italiano, com meus irmãos, isso entre 1999 e 2000, mais ou menos… Trancoso era um breu!! Naquela época, se faltava luz no Quadrado, você topava com um cavalo na rua. Era uma loucura! Durante 10 anos eu vinha para a festa do Taipe e ficava na casa sempre hospedada com esse meu amigo italiano, o Edo.
Em 2004 comecei a namorar o Kaco* e nos casamos em 2009. Depois de 20 anos de escritório de arquitetura e interiores em São Paulo eu falei: chega! Vou tirar um ano sabático e em 2020 vou viajar com meu marido, que sempre teve horários flexíveis e já trabalha no modelo home office; mas veio a pandemia. Foi uma feliz coincidência eu ter decidido parar de trabalhar naquele ano, pois se eu tivesse trabalhando ainda seria mais difícil, porque o escritório bombou durante a pandemia e não teria como me ausentar.
Outra coincidência foi que o Kaco teve que organizar outro local para guardar os equipamentos das festas que ele faz aqui em Trancoso. Durante a pandemia, ele foi obrigado a construir um novo galpão e tudo por whatsapp! Comprou o terreno pelo Google Maps, fez o projeto na mão, rabiscando, e os caras começaram a construir… Mas chegou um momento que a gente precisou vir, que foi em julho de 2020. Mesmo com o caos, aeroportos fechados… Consegui uma carona com o avião de uma amiga e fiquei no Outeiro nos primeiros 15 dias e depois fui para casa do Edo, sempre o Edo me acolhendo em Trancoso (risos). E começamos a ver que não precisava estar em São Paulo para educar nossos filhos, pois eles estavam em homeschooling. Eu sempre fui muito preocupada com escola e as formalidades acadêmicas, meu marido é mais ligado à natureza; e a pandemia veio para me mostrar que qualidade de vida é muito importante. Para mim, para o meu núcleo familiar, foi importante a gente se mudar para Trancoso. Nós tomamos café, almoçamos e jantamos juntos. Em São Paulo meus filhos saiam às 6 horas da manhã e só voltavam às 4 horas da tarde! E isso fez muito bem para mim e para Kaco porque mudou a dinâmica da nossa família. O que eu buscava ao sair de São Paulo era qualidade de vida. E encontrei aqui em Trancoso!
As pessoas me perguntam se vou morar em Trancoso para sempre, mas eu devolvo a pergunta: o que é para sempre? A pandemia veio para nos ensinar muito. Não dá prara fazer tantos planos. O importante é fazer o melhor que se pode e da melhor maneira possível. São Paulo, não fazia mais sentido. Na verdade, agora eu nem consigo mais: é sempre correndo atrás do relógio, no trânsito. Viemos pra cá pra passar a pandemia. Passou a pandemia e não queremos ir embora! E no ano que vem eu também não quero ir embora, não… (risos)
Você desenvolve um importante trabalho social em Trancoso. Como surgiu a ideia para o projeto?
Esse trabalho vem de família. Minha mãe tem uma ONG há 15 anos, chamada Verde Escola em São Paulo, que cuida de crianças na praia da Barra do Saí, que é onde a gente tem casa, então sinto que essa coisa da gente ter que cuidar do nosso quintal é uma obrigação. Eu carrego isso que eu chamo de culpa católica: eu posso ter as coisas mas tenho obrigação de retribuir e ensinar. Se cada um dos moradores ou visitantes que têm condições financeiras cuidassem do seu quintal e, principalmente, da educação dos filhos dos seus funcionários, faria grande diferença. Trancoso tem sete mil alunos. Para fazer a diferença aqui é muito fácil.
O que me deu “esse gás” de cuidar de Trancoso foi justamente isso: é fácil, pouco e pequeno e foi aí que em me conectei juntamente com a Laura Villares a rede Benquerer. A Morena Leite** me chamou. Foi ela que iniciou o projeto e reuniu pessoas legais daqui para usarmos das nossas conexões para ajudar. A Benquerer é na verdade uma rede de conexões e começou porque a Morena soube que eu vim morar em Trancoso, e ela é super amiga da minha irmã e é parceria do Instituto Verde Escola da minha mãe, em São Paulo, na parte de Escola de Cozinha, e me perguntou: “onde você vai colocar seu filhos para estudar?” Nós sempre conversamos sobre isso e eu disse que, por hora, eles estudariam no CEAD, em Arraial d’Ajuda, porque tem um currículo do Vera Cruz, que é uma escola super boa de São Paulo. Ela então resolveu fazer um raio-x de como estavam as escolas aqui de Trancoso e se deu conta que a situação estava ainda pior se comparado com a época em que ela estudou. Entretanto, anos atrás, não existia essa quantidade de dinheiro que roda aqui em Trancoso, então a situação era justificável. Agora não. Sinto que meu papel é esse: entrar em contato com essas pessoas de alto poder aquisitivo que circulam aqui e orientar desde questões relacionadas à coleta do lixo, apresentando o Cali***, que organizou a coleta seletiva os resíduos das festas do Kaco – Taipe e Saravá. Já que temos esse acesso, temos obrigação de devolver para a comunidade que nos dá tanto! O Taípe, desde o dia 1, para entrar, tinha que doar alimento. Acho que todas as festas deveriam fazer isso também. A Haute faz doação para Despertar e Formiguinhas. Como pode Trancoso sediar um casamento de R$ 15 milhões a Despertar, que é uma ONG que ajuda o turismo, está sem recurso para trabalhar? Eu queria levantar essa bandeira, e é muito louco porque é isso que minha mãe faz e sempre reclamei e morria de vergonha de ver ela pedindo ajuda para grandes empresários e agora estou fazendo mesmo que ela (risos) ! E eu faço até pros meus funcionários: comprei uma composteira maravilhosa e quando passou uma semana eu estava cobrando que eles também compostassem. O que eu fiz? Comprei um kit para cada um e agora todo mundo faz compostagem, e ele vendem o litro do chorume a R$ 50! Os maridos das funcionárias estão felicíssimos porque a horta deles está linda, porque vendem o chorume, tem menos lixo orgânico. Então a minha função é fazer com que as pessoas que gastam seu dinheiro aqui, devolvam para comunidade. E quero também fazer com que os moradores busquem capacitação. Nós, que temos mais recursos e mais conhecimento, precisamos mostrar as alternativas para eles, como eu fiz com a composteira em casa, que hoje todos meus funcionários também compostam em suas casas.
E a parceria com a Trancoseando surgiu em que momento?
A Ju!!! Quando eu estava ainda na dúvida em fincar os pés aqui mesmo ao tirar os meninos da escola em São Paulo e matriculá-los no Cead, ela me deu um super apoio. E até descontraidamente brincou dizendo: “você vai se chocar no primeiro momento e na sequência vai amar!” (risos). E, foi exatamente assim que aconteceu, a adaptação da cidade para a vida de vilarejo praiano/rural foi rápida e estamos amando…
E, então a Ju (de novo), teve o insight: como ela sabe que eu pinto porcelana, me convidou par assinar a linha casa da loja. “Bora Má!, você pinta super lindo e tem um super bom gosto, topa assinar a linha casa e fazer uma curadoria de peças de arte e customizar outras? Seria bem legal casar a sua retomada aos projetos de interior design com uma linha exclusiva Trancoseando que vai com a sua assinatura… sabe, algo despretensioso, leve com a cara de Trancoso e com a sua também… topa?” E assim, em conjunto com a minha retomada aos projetos de design de interiores, depois de dois anos sabáticos (risos), peguei um projeto de interior de uma casa no condomínio assinado pelo Gui Matos, o Vilas Altos de Trancoso, e em paralelo estou aqui assinando a linha exclusiva da Trancoseando, super feliz, sem stress!
Como foi o processo de desenvolvimento da coleção?
Fomos para Fortaleza, onde desenvolvemos peças de cestaria a partir de desenhos e referências nossas junto com artesãos de lá. Fizemos uma mistura de tudo e estilos diferentes e utilizamos até renda renascença para o jogo americano, que é super chique, com colher de barro. Fizemos também uma curadoria para selecionar vasos de artesãos de Trancoso e chamamos um índio pataxó, que fez diversos trabalhos aqui em casa, para desenvolver as cores e desenhos. A ideia é que a gente nunca tenha um vaso igual ao outro, então as peças serão únicas. Estamos também customizando os objetos locais, como aquele chocalho de sementes, que vamos prender na rede. Gosto também de customizar com pedras e cristais, pois eu sou muito apegada a essa história das pedras e seus poderes energizantes. Adoro uma decoração mais colorida, mais misturada mesmo. Saí um pouco dos tons de palha, cinza, branco tão característico de Trancoso, que eu amo, para trazer uma bossa mais vibrante. Quero trazer mais cor, mais vida, mais peças de arte para a loja e por isso trouxemos também algumas peças assinadas do Hugo França para enriquecer a curadoria e oferecer uma curadoria eclética e criativa como a Trancoseando.
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*Kaco Duarte é um dos sócios da Festa do Taípe e Saravá, que acontece há 21 anos em Trancoso.
**Morena Leite é chef de cozinha e sócia do grupo Capim Santo. Ela cresceu no Quadrado de Trancoso.
*** Cali Ferreira, ambientalista, está à frente do projeto Recicla Sul da Bahia.